O abandono da lagoa reflete a má gestão dos royalties nos últimos 8 anos
Saquarema, um dos municípios mais ricos do Estado do Rio de Janeiro em arrecadação de royalties do petróleo, vive um paradoxo preocupante. Apesar da entrada bilionária desses recursos, a cidade enfrenta desafios alarmantes, como o aumento da violência, o déficit habitacional crescente e a falta de geração de empregos. Especialistas apontam que a má gestão dos royalties e a ausência de investimentos estruturais contribuem diretamente para essa crise social.
Com uma arrecadação anual que supera a casa do bilhão de reais em royalties, Saquarema poderia se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável. No entanto, a falta de planejamento estratégico e de políticas públicas eficientes tem gerado impactos negativos para a população. A cidade, que deveria ter infraestrutura moderna, mobilidade eficiente e crescimento ordenado, convive com problemas crônicos que afetam diretamente a qualidade de vida de seus habitantes.
Um dos grandes entraves apontados por economistas é a ausência de um plano de investimentos a longo prazo. Enquanto municípios vizinhos buscam diversificação econômica e estruturam suas cidades para o futuro, Saquarema ainda carece de projetos sólidos de desenvolvimento urbano. A dependência excessiva dos royalties, sem a criação de alternativas econômicas, pode gerar um colapso financeiro caso a arrecadação sofra quedas bruscas com oscilações do mercado de petróleo.
Nos últimos anos, Saquarema tem registrado um crescimento preocupante nos índices de criminalidade. Relatórios de segurança pública apontam um aumento nos casos de furtos, assaltos e até crimes violentos, o que contrasta com a imagem pacata e turística que a cidade sempre ostentou. A falta de oportunidades de emprego e o crescimento desordenado da população são apontados como alguns dos principais fatores para esse cenário.
A geração de empregos no município não acompanha a expansão da população. Sem um parque industrial estruturado e sem incentivos robustos ao comércio e ao empreendedorismo local, muitos moradores acabam dependendo de empregos informais ou migram para outras cidades em busca de sustento. Esse déficit na economia contribui diretamente para o aumento da desigualdade e da criminalidade.
Outro problema crescente em Saquarema é o déficit habitacional. Com a valorização imobiliária impulsionada pelo crescimento turístico e pela proximidade com a capital, o custo de vida tem aumentado consideravelmente. Isso afeta principalmente a população de baixa renda, que enfrenta dificuldades para encontrar moradia digna.
Enquanto novos condomínios e empreendimentos de alto padrão surgem às margens da Lagoa de Saquarema e em áreas turísticas, a falta de projetos habitacionais acessíveis empurra famílias para ocupações irregulares e áreas de risco. A ausência de políticas públicas voltadas para habitação popular agrava ainda mais esse problema, ampliando as desigualdades sociais dentro do município.
A falta de investimentos estratégicos em infraestrutura, segurança, educação e geração de empregos está cobrando seu preço. Se Saquarema não reverter esse cenário, o crescimento econômico proporcionado pelos royalties será insustentável, resultando em uma cidade cada vez mais desigual e com sérios problemas sociais.
Especialistas sugerem medidas urgentes, como a criação de um fundo municipal de desenvolvimento, com regras rígidas para a aplicação dos royalties em projetos estruturantes. Além disso, políticas voltadas para a diversificação econômica, incentivos ao setor produtivo e planos habitacionais inclusivos são essenciais para garantir um futuro mais equilibrado para a cidade.
Saquarema tem em suas mãos a oportunidade de se tornar um modelo de crescimento sustentável. Mas, para isso, é preciso vontade política, planejamento e gestão eficiente dos recursos que, até agora, não têm sido devidamente aplicados para o bem-estar da população.