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Brasil tem mĂ©dia de 40 a 50 novos casos de mpox por mĂȘs

Dados do ministério apontam que, entre 2022 a 2024, o Brasil registrou quase 12 mil casos

Por REDAÇÃO em 14/08/2024 às 10:30:19

Em agosto de 2022, quando houve o pico de mpox no Brasil, o paĂ­s contabilizou mais de 40 mil casos. Um ano depois, em agosto de 2023, o total caiu para pouco mais de 400 casos. Em 2024, o maior nĂșmero de casos foi registrado em janeiro – mais de 170. Por fim, em agosto deste ano, a média de casos se mantém entre 40 a 50 novas infecções. O nĂșmero é visto pelo Ministério da SaĂșde como "bastante modesto, embora não desprezĂ­vel".

"Sem absolutamente menosprezar os riscos dessa nova epidemia, o risco de pandemia e tudo o mais, o que trago do Brasil não é ainda um cenĂĄrio que nos faça temer um aumento muito abrupto no nĂșmero de casos", avaliou o diretor do Departamento de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente TransmissĂ­veis da pasta, Draurio Barreira, nesta terça-feira (13), ao relatar a situação epidemiológica da mpox no Brasil.

No webinĂĄrio, Draurio lembrou que, nesta quarta-feira (14), a Organização Mundial da SaĂșde (OMS) convocou comitĂȘ de emergĂȘncia para avaliar o cenĂĄrio de mpox na África e o risco de disseminação internacional da doença. A decisão levou em conta o registro de casos fora da RepĂșblica DemocrĂĄtica do Congo, onde as infecções estão em ascensão hĂĄ mais de dois anos, além de uma mutação que levou à transmissão do vĂ­rus de pessoa para pessoa.

"Foi convocado pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, uma reunião para definir a situação da mpox – se virĂĄ a ser considerada emergĂȘncia em saĂșde pĂșblica de preocupação internacional. Ainda não temos esse cenĂĄrio. Amanhã, vai haver a definição. O fato é que temos um aumento absolutamente sem precedentes na África, não só em nĂșmero de casos em paĂ­ses que jĂĄ haviam sido acometidos, como também em paĂ­ses vizinhos e que ainda não tinham relatado nenhum caso de mpox."

Para Draurio, o quadro epidĂȘmico de mpox ainda estĂĄ circunscrito ao continente africano. "Mas, nessa época de globalização que a gente vive, ter um caso na África, na Ásia, em qualquer lugar significa um risco disso se tornar rapidamente uma epidemia global", disse. "Falando um pouco do Brasil, a gente tem uma atenção muito especial em relação ao mpox porque, no inĂ­cio da epidemia, em 2022, os dois paĂ­ses mais acometidos, não só em valores absolutos, mas também em incidĂȘncia, foram os Estados Unidos e o Brasil".

Perfil

Os nĂșmeros mostram o seguinte perfil epidemiológico das infecções por mpox no Brasil: 91,3% dos casos se concentram no sexo masculino, sendo que 70% dos homens diagnosticados com a doença tĂȘm entre 19 e 39 anos. A idade mediana definida pela pasta é de 32 anos, com idades variando de 27 a 38 anos. Além disso, 3,7% dos casos foram registrados na faixa etĂĄria até 17 anos e 1,1%, entre crianças de até 4 anos.

"No sexo feminino, a gente teve um nĂșmero 10 vezes menor do que entre os homens. Cerca de mil mulheres, também na faixa de adulto jovem", destacou Draurio. HĂĄ, entretanto, um percentual alto de gĂȘnero não informado. "19% praticamente, o que diminui todos os outros percentuais. Mas homens cis são mais de 70%. Se a gente conseguisse informação desses 18,7% não informados, certamente terĂ­amos uma distribuição maior entre homens cis".

Outra informação relevante, segundo o diretor do departamento, envolve grupos classificados pela própria pasta como mais vulnerĂĄveis, incluindo homossexuais, homens heterossexuais e bissexuais. "Novamente, temos quase a metade das pessoas sem definição de orientação sexual", ressaltou Draurio.

Do total de casos confirmados e provĂĄveis para mpox no Brasil, 45,9% declararam que vivem com HIV. Entre os homens diagnosticados com a infecção, o Ă­ndice chega a ser de 99,3%. A mediana de idade dos pacientes vivendo com HIV e que testaram positivo para mpox é de 34 anos, com idades variando de 29 a 39 anos.

"Todos os esforços que a gente tem feito se concentram, prioritariamente, na população HSH [homens que fazem sexo com homens]. Não por acaso, a responsabilidade pela vigilância e atenção estĂĄ no Departamento de Aids, Tuberculose, Hepatites e ISTs", completou Draurio.

O Brasil contabilizou ainda, de 2022 a 2024, 23 gestantes infectadas por mpox em diferentes momentos da gravidez.

Hospitalizações e óbitos

Em relação à hospitalização de casos da doença, o ministério considera que a infecção apresenta complicações em um nĂșmero bastante reduzido de casos – 3,1% dos pacientes foram hospitalizados por necessidades clĂ­nicas ou por algum agravamento do quadro clĂ­nico; 0,6% foram hospitalizados com o propósito de isolamento; e 1,6% foram hospitalizados por motivos desconhecidos. Ao todo, 45 casos foram internados em unidades de terapia intensiva (UTIs).

"Embora um óbito seja extremamente relevante para nós, o quantitativo de óbitos decorrentes de mpox tem se mantido muito baixo em comparação com a incidĂȘncia da doença", avaliou Draurio. A taxa de letalidade da doença, neste momento, é de 0,14%. Ao todo, 16 óbitos foram contabilizados entre 2022 e agosto de 2024 – nenhum este ano.

A mediana de idade, entre as pessoas que morreram em decorrĂȘncia da infecção, é de 31 anos, com idades variando de 26 a 35 anos. Os nĂșmeros mostram que 100% dos pacientes que morreram apresentaram febre e mĂșltiplas erupções, com erupções genitais de forma predominante. Além disso, 15 mortes foram identificadas entre imunossuprimidos vivendo com HIV (93,8%). Apenas um caso dos 16 óbitos se classificava como pessoa imunodeprimida decorrente de um câncer.

"Portanto, é uma doença que, no Brasil, até o momento, se não houver mudança no padrão epidemiológico, vem afetando principalmente e imensamente a população HSH [homens que fazem sexo com homens] e outros imunodeprimidos. Desses 15 óbitos [registrados nesse grupo], apenas cinco, um terço, recebeu tratamento antirretroviral", destacou Draurio.

Testagem

O diretor do departamento considera que a confirmação do diagnóstico de mpox é fundamental. Entretanto, segundo ele, ainda não hĂĄ teste rĂĄpido no paĂ­s para detecção da doença – apenas testes moleculares ou de sequenciamento genético.

"Os casos confirmados são, de fato, confirmados. Mas não dĂĄ tempo de esperar o diagnóstico definitivo por método laboratorial para que a gente evite o processo de transmissão da doença. Portanto, na sintomatologia de pĂșstulas, erupções cutâneas, feridas e todas as manifestações cutâneas que possam parecer, a gente tem que pensar imediatamente em mpox."

"Como a gente estĂĄ falando que a principal população afetada são pessoas vivendo com HIV, são pessoas que também tĂȘm muitos outros problemas dermatológicos comuns à imunodeficiĂȘncia. Portanto, o quadro se confunde", destacou o diretor, ao citar ser esse o motivo do alto nĂșmero de casos descartados no Brasil. "É o raciocĂ­nio que a gente tem que fazer: pensar em mpox, isolar o paciente e começar o tratamento disponĂ­vel de suporte".

A média de tempo entre a data de inĂ­cio dos sintomas e o óbito é de 58,6 dias. JĂĄ a média entre a data de inĂ­cio dos sintomas e a necessidade de internação é de 26,4 dias. Em 2024, o ministério contabilizou 49 hospitalizações por mpox, sem óbitos pela doença.

Tratamento

Por fim, Draurio ressaltou que o ministério obteve da AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) autorização de uma licença de importação do remédio Tecovirimat. "Por ser um medicamento off label, não foi ainda autorizado para o tratamento de mpox, mas, efetivamente, reduz a mortalidade", avaliou.

"Estamos agora procedendo junto à Opas [Organização Pan-americana da SaĂșde]. JĂĄ pedimos a compra, via Opas, de tratamentos para a eventualidade de um surto no Brasil. Hoje, não temos tratamento especĂ­fico", disse. "Vai ser importante ouvir, amanhã, os encaminhamentos da OMS para que a gente adeque o plano de contingĂȘncia nacional a orientações internacionais", concluiu Draurio.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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