Saquarema: Desafios persistem mesmo com alta renda per capita e oito anos de gestão

O município de Saquarema, já é reconhecido como um dos mais ricos do país, com uma das maiores rendas per capita. No entanto, o crescimento econômico da cidade não tem se traduzido em melhorias efetivas nas áreas essenciais para a população. Problemas estruturais, como transporte público precário, déficit habitacional, violência, desafios ambientais, desemprego e deficiências graves no sistema de saúde, como a falta de cirurgias ortopédicas, continuam a atormentar os moradores.

O grupo político que assumiu a prefeitura há oito anos, após uma campanha repleta de promessas ambiciosas, encerrou seu mandato sem cumprir a maior parte de seus compromissos. Curiosamente, muitas dessas promessas foram repetidas nas campanhas eleitorais subsequentes, sinalizando que os problemas permanecem os mesmos e que as soluções apresentadas não saíram do papel.

Entre os compromissos de campanha estavam a melhoria do transporte público, a criação de um programa eficiente de moradias populares, a ampliação da segurança pública e a implementação de ações de desenvolvimento sustentável, voltadas para a preservação ambiental, principalmente no que diz respeito a lagoa, questão crítica em um município, com uma rica diversidade ecológica e belas praias. No entanto, oito anos depois, os problemas persistem.

O transporte público de Saquarema é um dos principais motivos de reclamação da população. Com linhas de ônibus insuficientes, horários irregulares, os moradores enfrentam dificuldades diárias para se deslocar pela cidade. Isso afeta diretamente o acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e trabalho, especialmente nas áreas mais periféricas.

Moradores das regiões afastadas, como Jaconé e Sampaio Corrêa, relatam que, além de poucas opções de transporte, os ônibus raramente cumprem os horários estipulados, forçando muitos a recorrerem a alternativas caras, como transporte por aplicativos, o que sobrecarrega o orçamento familiar.

O déficit habitacional em Saquarema também é um problema crítico. Apesar do boom imobiliário nas áreas turísticas da cidade, com a construção de condomínios de luxo voltados para turistas e veranistas, o investimento em moradias populares é inexistente. Isso empurra famílias de baixa renda para ocupações irregulares ou áreas de risco, onde a falta de infraestrutura e serviços básicos é evidente.

A violência é outro fator preocupante. Mesmo com o aumento da presença policial em algumas áreas, os índices de criminalidade, especialmente pequenos roubos e furtos, continuam elevados. A sensação de insegurança nas ruas, particularmente em bairros mais afastados do centro, é crescente, e os investimentos em políticas de prevenção e combate à criminalidade parecem insuficientes.

Apesar de ser um destino turístico famoso por suas praias e belezas naturais, Saquarema enfrenta sérios problemas ambientais. O descarte irregular de lixo, o saneamento básico deficitário e a ocupação desordenada de áreas verdes têm gerado um impacto negativo no meio ambiente. Promessas de campanhas anteriores previam projetos de sustentabilidade, mas pouco foi implementado para reverter o quadro de degradação que, além de afetar a qualidade de vida dos moradores, compromete o potencial turístico da região.

A geração de empregos também continua sendo uma promessa não cumprida. Embora o turismo seja uma das principais fontes de renda da cidade, o emprego formal, especialmente fora da alta temporada, ainda é escasso. Jovens que buscam ingressar no mercado de trabalho encontram poucas oportunidades, e muitos acabam se deslocando para municípios vizinhos ou para a capital em busca de vagas.

O setor da saúde pública em Saquarema enfrenta desafios sérios, e uma das áreas mais críticas é a ortopedia. Pacientes que necessitam de cirurgias ortopédicas enfrentam filas intermináveis, e muitos são obrigados a aguardar meses – ou até anos – por procedimentos que deveriam ser urgentes. A infraestrutura dos hospitais e postos de saúde do município é insuficiente para atender à demanda da população, o que leva muitos moradores a buscarem atendimento em cidades vizinhas ou na capital.

Em uma cidade com renda per capita tão elevada, a precariedade no atendimento médico é uma contradição que a população questiona. A falta de médicos, especialistas e a demora na realização de cirurgias são reflexos de uma gestão que não priorizou o setor como deveria.

Saquarema, com todo o seu potencial econômico e turístico, continua a ser um município com grandes desigualdades e desafios. A alta renda per capita não reflete a realidade de muitos moradores, que enfrentam problemas diários relacionados à falta de transporte adequado, moradia, segurança, emprego e saúde. A administração municipal, que por dois mandatos consecutivos não conseguiu cumprir as promessas feitas à população, terá que lidar com o aumento da insatisfação popular, que cresce à medida que as promessas não cumpridas voltam a ser repetidas em novos ciclos eleitorais.

Os próximos anos serão decisivos para Saquarema, uma cidade que precisa alinhar seu crescimento econômico com políticas públicas eficazes que realmente melhorem a vida de seus cidadãos.